terça-feira, 3 de março de 2009

Toda a verdade sobre o Museu do Burro

Não acredito que Álvaro Rocha encomende o sermão aos lambe-botas que enviam mensagens do teor das que se segue:
-"Sr. Pedro como vai lidar com as gentes do ladoeiro, vai ser dificil, especialmente para o senhor, que já tentou com os burros do ladoeiro e não conseguiu. Será que eles tambem o utilizaram e depois o despediram. Pois a gente do ladoeiro não necessita doutores, mas sim de gente que os compreenda, e ao senhor nem os burros o compreenderam".
Em todo o caso, para esclarecer o assunto, esta vem mesmo a propósito. De facto, tentei implementar no Ladoeiro um projecto interessantíssimo e vanguardista, que está a dar os primeiros passos em países civilizadíssimos, em quintas situadas nos arredores das principais capitais.
Quando estudei este projecto com os meus parceiros, deparou-se-nos a possibilidade de o implementar no Parque de Monsanto, em Lisboa. Todavia, sempre a pensar na minha terra, puxei a brasa à minha sardinha e coloquei o Ladoeiro em primeiro plano. Mea culpa.
A ideia é simples, e radica na utilização do burro como veículo de terapia ocupacional. Chama-se asinoterapia e há a também a versão de hipoterapia, quando o animal utilizado é o cavalo.
No Ladoeiro, a ideia alargava-se a uma espécie de Centro de Interpretação de Práticas Agrícolas Tradicionais com Burros, a que por uma questão de comodidade dei o nome de Museu do Burro.
Em suma, e para atalhar, o projecto teve como utilizadores a APPACDM de Castelo Branco; a APPACDM do Fudão contactou-nos para o mesmo efeito, inúmeras escolas nos visitaram, até mesmo o Departamento de Literatura Popular da Universidade Nova de Lisboa, diversos programas de televisão levaram o nome da nossa terra muito longe, etc, etc.
Mas como começou o projecto no Ladoeiro? Num primeiro momento, procurei a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e esta mostrou-se receptiva à ideia, disponibilizando um terreno que até então servia de lixeira, nos arredores do cemitério do Ladoeiro, para onde, não raras vezes, vazavam caixões, tumbas, vestes e calçado dos mortos. Limpei toda aquela imundicie, diversas toneladas de lixo, e implementei o projecto. Que foi um sucesso. Todavia, com o crescente número de visitas, tornava-se necessário dotar o espaço de mais condições, designadamente de sanitários de alvenaria, pois até então socorriamo-nos de WC`s plásticos. Procurei a ADRACES, e esta aceitou comparticipar as obras, num valor de perto de quinze mil euros, se não me falha a memória. No entanto, forças de bloqueio, protagonizadas por Joaquim Soares, vereador da autarquia, impediram a todo o custo a realização das obras, para as quais existia inclusivamente o projecto de arquitectura.
Apesar do enguiço, não esmoreci e continuei. Até ao dia em que certa pessoa que partilhava o espaço com o Museu foi surpreendido, em plena luz do dia (01.12.06), pela segunda vez, a praticar actos sexuais anómalos com um animal, designadamente uma cadela, propriedade do Museu, que viria a ser abatida, em virtude de um prolapso da vagina. Nesse dia disse basta e fui falar com Álvaro Rocha, no sentido de tentar retirar aquele tarado sexual de um sítio permanentemente visitado por crianças e por deficientes mentais, como era o Museu do Burro. Encavacado, lá fui, sem saber bem por onde começar. Não é fácil lidar com o tema, mas enfim, ganhei coragem e falei sobre o caso. Qual não foi o meu espanto quando Àlvaro Rocha me disse, por estas palavras, que não queria ter nada a ver com o assunto, e que diria não saber de nada se o mesmo um dia fosse suscitado, e que, se quizesse, mandasse eu o indivíduo embora, pois ele não o faria. Não gostei do que ouvi, vindo de quem veio, mas como não queria deixar morrer o projecto, procurei conselho no Departamento Jurídico da Autarquia, no sentido de encontar uma forma de expulsar o tipo. Alí, pela jurista Sandrina Pereira foi-me dito o que eu temia ouvir: que a Associação Terras da Raia, entidade que implementara o Museu, não tinha legitimidade para expulsar fosse quem fosse, pois só a dona e legítima possuidora do prédio em questão o poderia fazer, ou seja a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova. Durante algum tempo, ainda alimentei a esperança de que Álvaro Rocha resolveria o assunto. Em vão. Entretanto, Armindo Jacinto, Vice-Presidente da Autarquia, vereador com o pelouro da Cultura e do Turismo, homem com tacto político, sensível ao sucedido, procurou encontrar uma solução que não ditasse o fim de um projecto que atraía inúmeras atenções para Idanha-a-Nova e apresentou-me Nuno Silva, pessoa que desenvolve projectos de Turismo de Natureza em Penha Garcia. Expliquei-lhe a ideia inicial, passei-lhe contactos, vendi-lhe burros e arreios, e julgo que os passeios de burro são hoje um sucesso nesta última freguesia.
E foi desta forma ignóbil que a nossa freguesia ficou sem mais um projecto que encheu páginas de jornais e ocupou o prime-time de todos os canais de televisão.
E fica aqui esta simples explicação, como homenagem aos burros que não me compreenderam, citando, neste caso, o anónimo que teve a gentileza de falar sobre o assunto.